Três sereias carpideiras
conversavam à beira da praia. Conversas livres, sobre coisas da vida e do fundo
do mar. Discutiam manobras de fuga das lulas gigantes, como afugentar os bons
tubarões e jamais se aproximar dos outros. Alternavam-se em seus testemunhos
das coisas que os homens jogavam na água, dos animais que se prenderam nas
redes e dos perigos dos tsunamis. Riam-se das corridas com os golfinhos ao
final da tarde. Assim passavam horas da vida a falar. Ao longe o navio sai do
porto e elas, prontas de alma, se enfeitam de sedução, exercitam suas vozes, e
saem a navegar atrás do barco. Cantam convites aos marinheiros, cantos de
provocar desespero e saudade e os convidam a nadar. Três sereias carpideiras
aguardam pacientemente a hora de chorar. Cada vez que um navio sai do porto
fazem, ofício antigo, valer cada hora viva da persistência do marinheiro.
Quando elas se aproximam demais do navio o comandante manda o marinheiro
apitar.